Construir um SaaS pode ser desafiador, principalmente quando levamos em conta a parte financeira, mas, é possível começar um com pouco ou nenhum investimento?
No episódio 4 do Projeto SaaS, Renan Caixeiro e Rodrigo Nunes, fundadores do Reportei.com debateram sobre uma polêmica apresentação do David Heinemeier Hansson, um dos fundadores do Basecamp, no Startup School de 2008.
Sobre David Heinemeier
David Heinemeier é criador do Basecamp e também do Ruby on Rails e do Instiki wiki, o vídeo debatido durante o episódio se trata de uma apresentação no Startup School, evento feito pela Y Combinator, uma das aceleradoras mais respeitadas dos EUA.
O discurso descontraído de David que arrancou gargalhadas da plateia trouxe a filosofia do Basecamp, que mais tarde se tornou até livro, mas que na época foi duramente criticada.
No início de sua apresentação, David brinca que se sente perdido e sozinho porque todos que já tinham se apresentado ali falavam sobre “queimar dinheiro”, no sentido de que se espera um grande investimento e um grande retorno.
A filosofia que mudou opiniões sobre o SaaS
Durante o episódio, Renan e Rodrigo afirmaram que a ideia de David mudou a visão de investimentos e negócios dos dois.
Eles achavam que todas as startups precisam de muito dinheiro envolvido para darem certo, mas, depois do vídeo com a apresentação de David, veio a confiança de que um SaaS pode ser lucrativo mesmo sem muito dinheiro
Isso porque David usa o seu próprio exemplo. O Basecamp é bootscraper, ou seja, paga suas contas com o dinheiro que recebem de seus usuários.
Muitos criadores de SaaS querem ganhar muito dinheiro e de uma forma muito rápida, o que eles chamam de “achar um unicórnio”, ou, inventar algo que seja inovador e que dê muito retorno.
Mas qual o problema disso?
Para David existem dois caminhos ao construir um SaaS, pode ser tudo muito corrido ou você pode construir da forma tradicional: eu tenho um produto, você tem uma necessidade, você me dá o dinheiro e eu te dou o produto que resolve seu problema.
Para ilustrar, o problema apresentado por David, Rodrigo usou uma excelente ilustração: “Tem uma piadinha no twitter que fala de um cara que abriu um bar no Vale do Silício, e entraram duas mil pessoas no bar. Ninguém comprou nada e ainda assim é um bar de sucesso. Porque ele tem uma base de duas mil pessoas, então se pensa ‘se no futuro eu vender, vou ter duas mil pessoas que podem comprar’, e é isso que se é pensado no mercado digital”.
Basicamente, o que é feito hoje em dia são SaaS que não cobram pelo seu uso, como as redes sociais, e vendem ou o próprio projeto ou o espaço dentre deles para a publicidade.
Ao invés disso, David defende que é mais fácil vender dentro do seu próprio projeto, como é o caso do Besecamp, onde o próprio usuário paga pelo aplicativo.
Para Rodrigo, encontrar 500 ou 1000 pessoas que paguem pelo serviço é um grande esforço, porém ainda assim será mais fácil do que encontrar 50 mil pessoas que usem seu aplicativo e o tornem algo que pode ser vendido por um preço alto.
Isso pode não ser tão “sexy”
Para Renam e Rodrigo, a ideia de quem um SaaS precisa envolver dinheiro e ter um lucro bilionário está muito envolvida com a publicidade.
Se uma empresa consegue vender seu projeto por 100 milhões de dólares, ele ganha manchete como “O próximo Uber”, e isso enche os olhos, se tornando algo “sexy”, na linguagem do marketing.
O que dificilmente acontecerá com um desenvolvedor que se mantém a 15 anos com um negócio sustentável, porque não é algo que será atrativo.
Mas isso não pode ser considerado como falta de ambição?
Durante o episódio, Rodrigo mencionou que já fez vários produtos gratuitos com o objetivo de ter apenas usuários, mas quando conheceu o método do David resolveu mudar sua estratégia e a partir disso teve algo muito importante para um SaaS: o dinheiro.
De nada adianta ter a ambição de crescer seu SaaS se não houver dinheiro para investir nele e o fazer crescer.
Como exemplo temos a Covertkit, do Nathan Barry, um blogueiro que falava sobre vender produtos na internet e resolver criar um SaaS para e-mail.
Muitos disseram que o mercado estava saturado, mas Nathan focou em transformar o produto para os criadores de conteúdo. Hoje a empresa fatura mais de 1 milhão e meio de dólares por mês.
Tudo isso sem nenhum dinheiro de investimento, tudo com faturamento dos próprios clientes conquistados na versão original, o que foi gerando dinheiro para ambicionar melhorias.
O caso do Reportei.com
Renam e Rodrigo consideram que criar algo que seja útil e tenha demanda é muito mais importante do que criar algo do zero e totalmente inovador. Você pode pegar um produto que já existe, melhorá-lo ou dar uma outra visão para outro nicho de pessoas.
O Reportei.com foi um caso de SaaS que focou em agências e freelancer, tendo em mente um preço para esse público, já que vivem essa realidade e sabem quais são as necessidades do mercado.
Esse tipo de ideia não é “sexy”, como já falamos, no início SaaS os dois participavam de concursos de Pitch, para apresentarem o Reportei.com, porém, em nenhuma das tentativas chegavam ao menos ao top 3.
Os principais comentários eram sempre sobre o produto já existir em outras versões, que precisava de um nicho maior e que o mercado “engoliria” o produto da forma como era.
Comentando sobre essas experiências, Renan e Rodrigo lembraram que em um dos Pitchs participados quem ganhou foi um projeto que consistia em uma balança
que avisava quando o gás estava acabando.
Atualmente não se tem mais informações sobre esse projeto, enquanto o Reportei.com, já na época, contava com clientes no Brasil e um no Oriente Médio e mesmo assim não foi visto como “sexy” para o mercado.
Afinal, é preciso ou não ter muito dinheiro envolvido em um Saas?
Para colocar um contraponto de que você não precisa ser milionário para criar um SaaS de sucesso e na verdade o principal é ter público e estabilidade, nossos apresentadores nos apresentaram um caso extremo.
O Pinboard é uma rede social de favoritos, como os favoritos do Google, ele ajuda a construir e organizar os favoritos das abas do Google, sem ter que interagir com ninguém.
Essa rede social é totalmente conduzida por apenas uma pessoa e tem a assinatura anual no valor de U$22,00.
Algum tempo depois de sua criação, surgiu uma rede social com a mesma ideia, chamada Delicious, que conquistou usuários oferecendo o serviço gratuito e em 2005 foi vendida para o Yahoo por um valor entre 15 e 30 milhões de dólares.
Porém, o negócio foi à falência, assim como o próprio Yahoo, e no fim o Delicious foi comprado pelo Pinboard.
O que se pode aprender com tudo isso?
Para finalizar o podcast, Renan destaca conceitos do livro Antifrágil: Coisa que se Beneficiam com o Caos, de Nassim Taleb.
- Negócio frágil é uma empresa de capital aberto que tendem a sumir com uma velocidade rápida;
- Uma empresa robusta é uma coisa mais familiar, que podem passar por algumas crises mas dificilmente vão quebrar;
- O antifrágil é o “artesanal”, aquele que depende de si próprio para continuar. Ele pode não ser milionário, mas é ele mesmo que sustenta seu próprio negócio e enquanto conseguir fazer aquilo o seu negócio não irá falir.
Acompanhe nosso podcast!
O Projeto SaaS é um podcast voltado para empreendedores e entusiastas de Software as a Service (SaaS).
O Cast foi criado com objetivo de fomentar esse mercado no Brasil e por isso, traz profissionais experientes para discutir assuntos importantes para a construção e crescimento de um produto SaaS.
Acompanhe através do Apple Podcast, Spotify ou Google Podcasts.
O Projeto SaaS é um Podcast voltado para empreendedores e entusiastas de Software as a Service (SaaS). O cast foi criado com o objetivo de fomentar esse mercado no Brasil e por isso, traz profissionais experientes para discutir assuntos importantes para a construção e crescimento de um produto SaaS.